«A Identidade Nacional»  

          

A ideia de uma identidade própria começou a suscitar nos grupos sociais a perceção de pertença à categoria de ser português. Esta surgiu devido à reconquista ativa, quando o rei age como chefe dos seus vassalos na luta contra o Islão; As guerras contra Castela nos reinados de D. Fernando e D. João I – trata-se da primeira expressão de uma crença acerca da sacralidade que envolve os reis de Portugal e que por eles beneficia os seus vassalos; A expansão portuguesa – que colocou milhares de portugueses em contacto direto com outros povos e outras civilizações o que veio reforçar o sentimento nacional; Dominação Filipina – que revelou uma consciência de identidade Nacional; A Restauração – a guerra contribuiu para aprofundar o fosso entre portugueses e espanhóis; As Invasões francesas – verificaram-se as primeiras manifestações de resistência popular e espontânea a que se pode atribuir um carácter nacional; As guerras liberais – que opuseram os portugueses uns contra os outros, todavia o facto de ambos lutarem por um poder único sobre todo o país mostravam que os combates eram apenas ideológicos, o seu triunfo contribuiu para difundir o ideal nacional como um vínculo que devia unir todos os portugueses. Contudo, estes fatores não levaram a que fosse possível falar de uma generalização da consciência da identidade nacional em toda a população portuguesa. Esta só se começou a definir a partir o século XIX, devido à difusão de fenómenos característicos

Outro fator importante na definição da identidade nacional é a identidade geográfica. Em cinco séculos a população portuguesa cresceu muito e muitas das características da distribuição antiga do povoamento perduraram. Todas as províncias do país têm um carácter nitidamente político da formação das regiões nacionais. As características dominantes de cada região cultural não se traduzem em nenhum comportamento histórico peculiar. Este só se pode observar ao nível das grandes áreas territoriais portuguesas, sobretudo quando se consideram do ponto de vista da oposição do Norte e do Sul. Quanto ao sul mediterrânico é a área onde, desde sempre, se manteve a tradição de uma economia urbana e da sua predominância sobre a economia rural. Se o norte atlântico forneceu ao país um modelo de repartição social que predominou em toda a sua história ate ao fim do século XIX, o norte interior ofereceu-lhe um modelo de organização municipal depois exportado para todo o resto do país com a ajuda do estado, e o sul proporcionou-lhe o modelo urbano a partir do qual se desenvolveu uma economia de nível nacional. As tensões entre o norte tradicionalista e conservador e o sul progressista e inovador tornaram-se a base das oposições regionais até aos nossos dias. Estas tensões manifestaram-se na repartição dos partidos políticos, na maior ou menor intensidade da prática da religiosidade, nas rivalidades clubísticas, nos diversos tipos de estruturas familiares e nos fenómenos linguísticos. O estado português sempre procurou ignorar ou ocultar esta divisão. Devido a uma certa industrialização das principais cidades do litoral e a uma progressiva tensão entre o litoral e o interior, a oposição entre o norte e o sul começou a perder importância. As tensões entre o litoral e o interior acentuaram-se devido a algumas tentativas de desenvolvimento do interior.

O fator político é, sem margem de dúvida, o mais importante na formação da identidade nacional. Em termos gerais, o nome do país deriva de um centro administrativo e não de um povo. A importância deste facto pode verificar-se comparando com o nome de outros países que derivam de substantivos étnicos. Portucale, a junção de Portus, nome primitivo da cidade do Porto com Cale, não foi desde logo reconhecido como um todo, numa segunda fase da expansão do âmbito administrativo de Portucale houve a dificuldade de conceber o território de Portugal até 1165. A expansão territorial de Portucale passou do Porto para as suas áreas circundantes: Braga, Lamego e Coimbra. A distinção entre o Condado Portucalense e a Cívitas de Coimbra, só foi esquecida quando D. Afonso Henriques se tornou rei em 1128, por este motivo, os portucalenses nunca foram propriamente um povo nem uma etnia mas sim, os súbditos de quem os governavaPortugal começou por ser uma formação de tipo estatal (1143) e só muito lentamente acabou por se tornar uma Nação (1891). A formação de tipo estatal era caracterizada por uma unidade administrativa e por falta de unidade do povo a nível de diferenças culturais, diferentes condições de vida, diversidade paisagística e história. O que fez a sua unidade foi a continuidade de um poder político que dominou o conjunto de uma maneira firme e fortemente centralizada que se evidenciou numa manifestação conjunta aquando do Ultimatum Inglês, 1981, seguido do sentimento de humilhação.

O processo de formação da identidade nacional generaliza-se depois da difusão da escrita e da participação de toda a população na vida pública. Este atingiu numa primeira fase os representantes da autoridade régia e mais tarde os membros das administrações municipais. Numa segunda fase, a restante população foi influenciada pelo uso constante de símbolos concretos como o escudo das armas do rei, a bandeira nacional e a moeda. Estes símbolos, ainda hoje têm uma força representativa no nosso país. Também a atribuição de significado de reino, de naturalidade, de pátria, de fronteiras e de sucessão régia exercem uma forte influência sobre a consolidação da consciência da identidade nacional e que têm uma relação íntima com o poder político. O valor atribuído à identidade nacional é tanto mais positivo quanto mais importante se considera a sua defesa como meio de beneficiar os indivíduos que dela participam. A atribuição de um valor à identidade nacional resulta de um processo muito lento. Ao considerar eterna a noção de identidade nacional a ideologia nacionalista, Mattoso, tendeu a considerar eternos dois valores: o valor supremo à pátria e ao Ultimatum, devido ao número de portugueses capazes de captar a consciência da identidade nacional e de assumir como um valor conjunto os interesses da pátria. A partir daí a ideia de identidade nacional depressa se tornou uma convicção implantada e passou a estar presente na consciência de todos


Hoje o que sustenta a identidade portuguesa é, de facto, o Estado. Por isso o processo de eclosão de consciência nacional é tão lento e a sua expressão popular tão tardia. Contudo é de realçar que a crise económica que se está a debater sobre o nosso país está a debilitar o orgão de soberania e por esse mesmo motivo, se fala do "futuro do estado social". Assim, a pergunta reside: O que será do Estado e da nossa identidade? 

processo de categorização da identidade Nacional está associado à tomada de posse do reino de Portugal por D. Afonso Henriques, que assumiu o título de rei. Neste período, a dependência para com o rei e os seus delegados era vivida como um fenómeno de uma ordem completamente diferente daquilo que são hoje os direitos e deveres dos cidadãos. O rei era o senhor dos senhores, era uma espécie de um ideal com o qual os súbditos não tinham qualquer relação direta. O vínculo dos portugueses com o rei decorria mais da vassalidade do que propriamente do facto de habitarem no território que lhes estava sujeito. Assim, as obrigações para com ele dependiam do facto de serem os seus súbditos diretos.