Colóquio “Intercâmbio Cultural: diálogos Brasil-Portugal”

 

Tendo por base o centenário de Jorge Amado e o Ano do Brasil em Porutgal, na passada sexta-feira, dia 30 de novembro de 2012, a Universidade Globo em parceria com a Faculdade de Ciências Humanas, organizou um colóquio sobre a relação entre Portugal e o Brasil, relativo às produções fictícias, em especial, a novela do horário nobre da SIC, “Gabriela”.

O Colóquio teve início às 09h45min e terminou às 17h00min. Muitos foram os presentes nesta sessão, vários professores da FCH e representantes da TV Globo, dando especial enfoque ao Diretor do canal, o Dr. Ricardo Pereira. Maurício Kubrusly foi o apresentador da sessão. Não menos importante, a Vice-Reitora da Universidade Católica Portuguesa, a Prof.ª Dr.ª Isabel Capela Gil, que falou da ligação entre os dois países e afirmou o interesse da FCH nesta parceria e nas indústrias culturais. É de realçar que desde 1977 que há uma relação entre Portugal e a Rede Globo e, por isso, podemos afirmar que a televisão foi fundamental para criar o país em que hoje vivemos.

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Primeira Mesa: «Jorge Amado: A adaptação da narrativa literária para a narrativa televisiva»
Esta mesa contou com a presença de José Wilker – ator; Mauro Alencar – especialista em teledramaturgia; Adriana Martins – Professora da UCP/FCH; Eduardo Cintra Torres – Professor da UCP/FCH; Isabel Ferín Cunha – Professora da Universidade de Coimbra.

Em suma, o tema abordado foi a novela “Gabriela, Cravo e Canela” e a sua adaptação literária para a narrativa televisiva. A readaptação deste seriado, escrito por Jorge Amado[1]- que cumpriria agora ao seu centenário - é uma homenagem ao mesmo. Se antes esta novela tinha um cariz fortemente político[2], de crítica à sociedade brasileira da época em especial à exaltação da emancipação da mulher (que era estritamente necessária). Agora a novela é feita para o público de hoje, para entreter e deixá-lo colado ao ecrã. Eduardo Cintra Torres, Professor da FCH, crítico em televisão, publicidade e autor de conteúdos de televisão para a RTP, realça que o contributo trazido pela telenovela, em 1977, para Portugal, sobretudo ao nível de novos conteúdos, da forma naturalista e realista da representação em português, da familiaridade com os atores, da qualidade do diálogo e do argumento e ainda a introdução da banda sonora[3]. Afirmou também a natureza apetecível das novelas, que são uma representação do nosso dia-a-dia, e é essa associação que faz o público aproximar-se delas e apegar-se, viciando-o. Já a investigadora e Professora Isabel Ferín Cunha, afirma que a “Gabriela” teve um papel determinante na criação de um mercado mediático em Portugal, isto porque devido ao contexto social da época, a questão da sensualidade e da sexualidade foi geradora de uma grande polémica.

«Quando agente fez "Gabriela" pela primeira vez, a gente vivia no Brasil sob uma ditadura. O papel da novela, digamos, no segundo ou terceiro plano, de algum modo era protestar contra o que estava acontecendo com o país. Hoje o nosso compromisso maior é com a diversão.»

 José Wilker[4]

Segunda Mesa: «Intercâmbio Cultural Brasil – Portugal»
A segunda mesa contou com a presença de Lima Duarte – ator; Maria Adelaide – autora de novelas; Catarina Duff Burnay – Professora da UCP/FCHM; Maria Immacolata Vassalo de Lopes – Professora.

Lima Duarte enuncia a importância da língua, da oratória e da reflexão, para explicar que o que impulsionou Jorge Amado foi o brasileiro, ou seja, as verdadeiras temáticas do Brasil. Após Lima Duarte, a escritora Maria Adelaide tomou palavra, sublinhando a importância de uma relação de amizade e cooperação entre o Brasil e Portugal, dando especial atenção para o mar. De seguida, a professora Catarina Duff Burnay falou da televisão e do seu papel fulcral na função lúdico-afetiva. A professora realçou a primeira mudança sentida na televisão portuguesa, que se deu a propósito do seriado “Gabriela, Cravo e Canela” em 1977, criando um novo ciclo programático; mais tarde deram-se outros períodos de mudança, nomeadamente, em 1988 com a Revisão Constitucional e 1992 com a criação da SIC. A primeira Guerra das Audiências dá-se em 1995 e a segunda, ocorre cinco anos mais tarde, aquando a compra da TVI (1993) pelo grupo MediaCapital. É nesta altura que imigra o fenómeno “Big Brother” e com ele, pela primeira vez, a TVI arrasa todas as audiências, inclusive as novelas brasileiras do prime-time. Nestes vinte anos de “amizade”, foram muitas as produções fictícias. Porém encontramo-nos numa nova fase que vem já desde 2010 – a diversificação de formatos e temáticas – que permitiu uma co-produção entre Portugal e Brasil. Neste sentido faz-se referência ao remake customizado, ou seja, pegamos numa história já produzida e readaptamo-la aos dias de hoje, voltando a emiti-la como é o caso da co-produção “Dancing Days” ou da novela da rede globo "O Astro". Por último, a professora Maria Immacolata Vassalo de Lopes falou da transnacionalização, que é hoje, um fenómeno muito complexo pois já não é somente um negócio de compra e venda de ficção televisiva, este é um negócio mas não só monetário e também a transmissão e partilha de culturas.

 


[1] Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001) foi um grande escritor brasileiro. É o autor mais adaptado da televisão brasileira, nomeadamente, “Tieta do Agreste”, “Gabriela, Cravo e Canela”, “Teresa Batista Cansada de Guerra”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Tenda dos Milagres” entre outras narrativas, foram adaptadas quer à televisão, quer ao cinema e teatro. Pela sua grandiosa obra e as suas quase inúmeras adaptações, em 1994 foi galardoado com o Prémio Camões.
[2] Humberto Dias, Nacib de Gabriela, falou no programa E-Especial das tardes de sábado da SIC; «dentro da ótica do Jorge Amado, dentro do princípio deles, ele estabeleceu dentro da obra todo um contexto político-social inerente da época, que não se afasta muito de muitos de lugares de hoje em dia, muito lugares até.»  (3:11-3.27)
[3] Banda sonora da novela “Gabriela” em 1977 -
[4] Coronel Jesuíno em Gabriela; falou no programa E-Especial das tardes de sábado da SIC  (3:28-3:46)

 

É exactamente devido à globalização, à "aldeia global" e ao saber conhecer-nos e aceitarmo-nos a nós próprios bem como aos outros, nomeadamente aos estrangeiros que por aqui passaram e passam, que podemos interligar o colóquio da relação Portugal-Brasil com a opinião de José Manuel Sobral, no sentido em que estas experiências permitem a aculturação e a própria evolução cultural, deixando que nós próprios beneficiemos dela bem como dando aos outros um pouco daquilo que é nosso - e vice-versa -.